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TRÊS LAGOAS

  • Foto do escritor: Laura Seligman
    Laura Seligman
  • 25 de mar.
  • 4 min de leitura

Bruna Melo e Nathana Nunes



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Três Lagoas é a cidade mais segura do Mato Grosso do Sul e a quarta cidade mais segura do Centro-Oeste, a quatro horas e trinta minutos de Campo Grande, capital do estado. Três Lagoas tem 132.152 habitantes. O prefeito da cidade é Cassiano Maia (PSDB) e a Câmara Municipal conta com 15 vereadores, sendo apenas três mulheres, Sirlene dos Santos (PSDB), Maria Diogo (PT) e Evalda Reis (MDB).

O principal jornal online da cidade é o RCN 67 Três Lagoas, com sede na rua Eurídice Chagas Cruz, 807. O grupo RCN também sintoniza a rádio Massa em três cidades, Campo Grande, Dourados e Três Lagoas e também a rádio cultura em Paranaíba, Aparecida do Taboado e Três Lagoas. No período de fevereiro de 2025 o jornal publicou 15 reportagens na editoria de política, mas apenas seis citam mulheres na política.

A primeira notícia que cita uma mulher na política é “A prefeitura vai terceirizar serviços para otimizar e reduzir custos”. Por mais que ser presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Três Lagos não seja um cargo político oficial, Luciana Braçal ocupa um espaço e influência na política. Na matéria, a presidente do sindicato é apenas citada, como se a fala dela demonstrasse uma opinião pública e não os fatos. Além do mais, Luciana é retratada de forma informal, “Ela defende que a maioria dos serviços seja realizada por servidores públicos” e não há nenhuma foto para representá-la.

Na matéria “Rota Bioceânica reforça papel estratégico de Três Lagoas”, a fonte especialista é uma mulher, mas não é por representatividade, Cristiane Viegas é a idealizadora da Fundação Instituto Bioceânico. Essa é uma das poucas reportagens da análise que traz a mulher como uma das principais fontes e que não descredibiliza a fala de uma mulher especialista. Outra mulher citada na matéria é a Rafaela Capelari, empresária multinacional especializada em logística e CEO do Grupo Quinta Roda SL, que é fundamental para a inclusão da Rota Bioceânica na cidade. Rafaela é tratada mais formalmente na reportagem, seu cargo é citado mais de uma vez e suas falas são fidedignas. Um exemplo disso é “A empresária ainda pontuou que a Rota Bioceânica trará benefícios também para os portos do Atlântico, aliviando a pressão sobre essas estruturas e otimizando a logística de transporte.”

Na matéria há uma foto, não se consegue identificar se é a Cristiane Viegas ou Rafaela Capelari, ou seja, mesmo que nessa reportagem as falas das mulheres na política sejam valorizadas, sua imagem não é necessária, ao contrário de reportagens que a fonte especialista é um homem e tem uma foto e uma legenda explicando quem é.


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Na notícia “Projeto de reforma administrativa deverá ser enviado à Câmara de Vereadores” anuncia a nova presidência do Partido Liberal (PL), Mara Belchior, é pecuarista e foi indicada pelo vereador Adriano Cesar Rodrigues. Mesmo que agora Mara seja a nova presidenta do PL, ela é citada em apenas um parágrafo, dando mais enfoque em quem a indicou. Além do mais, de acordo com a gramática da língua portuguesa o feminino de presidente seja presidenta, no texto mesmo que Mara Belchior seja a nova presidenta do PL o intertítulo está “Nova presidente”

“Três-lagoenses aguardam na fila de espera por cirurgias há mais de um ano”. Nessa notícia, o jornal dá mais destaque ao prefeito Cassiano Maia enquanto fonte. Apesar de Elaine ser uma fonte especialista e secretária de saúde, sua fala só aparece no meio para o fim da notícia, parte menos acessada na leitura de notícias. O que descredibiliza Elaine que ocupa um cargo de referência na área da saúde, graduada em enfermagem, especialista em saúde pública e saúde da família e tem mais conhecimento sobre o assunto do que o prefeito de Três Lagoas.

Na notícia “Câmara realizará audiência pública sobre agricultura familiar e regularização fundiária” a vereadora Maria Diogo é a fonte principal do texto, pois a iniciativa foi tomada pela parlamentar, para que a audiência pública sobre agricultura familiar fosse debatida na Câmara Municipal de Três Lagoas. Apesar de não ser especialista em agricultura ou ciências sociais, Maria Diogo aparece como fonte principal por causa do cargo público que ocupa e por ter liderado o pedido para audiência pública. Mesmo sendo a principal fonte do texto, não existe uma foto da parlamentar, apenas seu rosto na capa do vídeo que não é a foto principal da notícia.

A notícia “Vereadores discutem creche noturna e instalação de redutores de velocidade”

tem apenas uma entrevistada, que aparece apenas no último parágrafo do texto, a vereadora Evalda Reis. O que é contraditório, pois na foto que abre a notícia, é possível enxergar outras duas vereadoras na mesa e seus nomes no telão da Câmara, Maria Diogo (PT) e Sirlene dos Santos (PSDB) não são entrevistadas.

Além de só recorrer a fontes políticas em um assunto que é de interesse de muitas mulheres, seria interessante entrevistar uma mãe que necessita do serviço das creches como fonte personagem, para explicar a necessidade desse serviço para poder trabalhar ou apenas para que o filho tenha uma base educacional. Mais de 30 mil crianças não frequentam creches em Mato Grosso do Sul, segundo um estudo feito pelo Todos Pela Educação com base nos dados do IBGE.

De forma geral, o portal de notícias descredibiliza as mulheres enquanto fontes, por mais que sejam especialistas ou ocupem cargos importantes. Suas falas são quase sempre posicionadas no final do texto e de maneira mais secundária e suas fotos nunca são divulgadas nas notícias, mesmo quando se fazem necessárias.

 
 
 

2 comentários


armandohnj
26 de mar.

Excelente texto, com uma abordagem bem atual e relevante. Parabéns às autoras pelo trabalho.

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deborahmelo62
25 de mar.

Temática super importante e muito bem abordada. As mulheres merecem mais prestígio e destaque. Parabéns as acadêmicas Bruna e Nathana pela excelente publicação!

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